Da UnB Agência

O uso da mídia profissional parece ter um impacto positivo sobre o nível de informação dos brasileiros em relação à Covid-19. Usuários intensivos de portais de notícias (como G1, Globo.com, R7, Terra, UOL e Congresso em Foco) têm um nível de conhecimento 5% maior do que os que nunca usam essas fontes para se informar sobre a doença. Pessoas que usam com frequência buscadores de internet como Google também estão mais informados, em 4%, do que os que nunca procuram informações dessa forma. 

 

Esses são novos resultados da pesquisa “A comunicação no enfrentamento à Covid-19”, liderada pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública da Universidade de Brasília (CPS/UnB) em um consórcio com pesquisadores de universidades brasileiras (UFG e UFPR), internacionais (Western University, no Canadá) e da iniciativa privada. O estudo entrevistou 2771 brasileiros, numa amostra que buscou representar a população brasileira com cotas de gênero, idade, região geográfica e classe social.

 

A pesquisa mensurou um indicador de conhecimento sobre a doença a partir das respostas certas a 17 questões sobre a transmissão e os cuidados de prevenção em relação ao novo coronavírus. Os dados revelaram que usuários frequentes de WhatsApp sabem 3% menos que pessoas que nunca usam o aplicativo para se informar sobre a Covid-19. Já os usuários intensivos de redes sociais sabem 2% menos que os que nunca usam essas plataformas para se informar sobre a doença. 

 

“As diferenças parecem ser pequenas, mas em alguns casos separam pessoas que sabem das que não sabem, por exemplo, que é possível ser infectado pelo coronavírus mesmo quando você está usando máscara, ou quando a pessoa infectada não tem febre”, explica Pedro Mundim (UFG), um dos integrantes do consórcio de pesquisadores que conduz o estudo.

 

Segundo o estudo, também têm menos informação sobre a Covid-19 pessoas que avaliam favoravelmente o governo de Jair Bolsonaro e os segmentos mais pobres ou com menos escolaridade da sociedade brasileira. Não há diferenças importantes por gênero, idade, religião, raça ou região geográfica do país.

 

Os portais de notícias também impactam as chances de se vacinar. Brasileiros com uso baixo ou moderado dos portais de notícias têm a mesma chance de se vacinar, respectivamente 23% e 24%. Já os com uso mais intenso somam 53%, ou seja, o dobro de chances. Dados semelhantes aparecem em relação aos mecanismos de busca na internet. Apenas 15% dos brasileiros com uso baixo desses mecanismos pretendem se vacinar, contra 25% dos com uso moderado e 60% dos com uso alto.

 

Efeitos parecidos aparecem em relação ao nível de preocupação com a Covid-19. O nível de preocupação com a doença aumenta à medida em que também aumenta o uso dos portais de notícias: de 20% para os brasileiros com uso baixo para 23% dos com uso moderado e 57% dos com uso alto. Em relação aos mecanismos de busca na internet, apenas 13% dos brasileiros com uso baixo desses mecanismos mostram-se bastante ou muito preocupados com a Covid-19, contra 24% dos com uso moderado e 64% dos com uso alto. 

 

Segundo Max Stabile, do IBPAD - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados, esses valores indicam efeitos positivos dos portais de notícia e dos mecanismos de busca. “Uma maior preocupação com a doença, neste caso, é algo positivo, já que as pessoas tendem a buscar mais informações sobre a doença ou ter atitudes mais responsáveis, como usar máscaras, manter o distanciamento social, lavar as mãos ou não participar de aglomerações”, diz. 

 

Ficha técnica:

A coleta da pesquisa “A comunicação no enfrentamento à Covid-19: Identificação de desigualdades informacionais em segmentos sob risco” foi realizada pelo IBPAD - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados, em painel online com 2771 brasileiros convidados de forma aleatória entre os dias 23 de setembro e 2 de outubro de 2020, com cotas de gênero, idade, região geográfica e classe social. Foi financiada com recursos do Edital COPEI-DPI/DEX No 01/2020 da Universidade de Brasília e do IBPAD. Mais informações estão disponíveis em www.cps.unb.br  


Equipe: Wladimir G. Gramacho (Coordenador do CPS e professor da Faculdade de Comunicação da UnB), Pedro Santos Mundim (Coordenador do CPS e professor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG), Emerson Cervi (Professor do Departamento de Ciência Política da UFPR), Mathieu Turgeon (Professor do Departamento de Ciência Política da Western University, no Canadá) e Max Stabile (IBPAD - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados).