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celular branco com o Twitter aberto

 

Wladimir Gramacho

 

Não é demais imaginar que o conflito na Ucrânia piorou a qualidade do contexto informativo na Rússia. Afinal, numa guerra, a primeira vítima é a verdade – como sugere uma frase muito conhecida. Além disso, o presidente russo Vladimir Putin está longe de zelar pela liberdade de expressão e pela qualidade das informações sobre seu governo e suas ações.

 

Um estudo recém-publicado na prestigiada American Political Science Review traz novos dados sobre como funciona o exército de contas “robotizadas” – ou bots - do Twitter em língua russa utilizados para desmobilizar protestos, sejam eles de rua (offline) ou digitais (online). Os quatro pesquisadores que assinam o artigo “Why Botter: How Pro-Government Bots Fight Opposition in Russia” identificaram 1.516 contas “robotizadas” pró-governo e analisaram suas atividades no Twitter de 2015 a 2018. Por serem ferramentas relativamente baratas e de difícil rastreabilidade, em comparação com contas administradas por seres humanos, os bots já vinham sendo usados por políticos russos para inflar artificialmente o apoio a medidas polêmicas e para agradar ao regime de Putin.

 

As hipóteses dos autores previam basicamente que, em dias com mais protestos de rua ou atividade em contas online de opositores, os bots governistas aumentariam sua frequência de postagens no Twitter, retuitariam publicações de uma variedade maior de fontes e publicariam mais conteúdo sobre o presidente Putin e sobre seu principal opositor, Alexey Navalny. Essas estratégias, explicam os autores, combinam formas de distrair ou confundir os cidadãos com excesso de informações sobre temas variados, de sugerir que o apoio ao presidente é majoritário e de ameaçar quem se identifica com a oposição.

 

Os resultados da pesquisa mostraram que, em geral, o comportamento dos bots governistas é mais reativo à mobilização online de ativistas que às manifestações de rua. O aumento no volume de conteúdo postado e na diversidade das fontes é, pelo menos, duas vezes maior em dias com mais protestos online que em dias de maior mobilização off-line.

 

Embora os efeitos observados tenham sido pequenos para cada uma das contas “robotizadas” individualmente, quando agregados, os bots chegam a publicar até 1.500 tweets a mais em dias com maior mobilização online, e 750 tweets diários a mais sobre as qualidades do presidente Putin.

 

Com uma guerra em curso, não se sabe exatamente o que esse exército de robôs está fazendo atualmente. Mas tampouco seria demais imaginar que suas vítimas primordiais, neste momento, continuem sendo a verdade e as liberdades de expressão e manifestação.


 Este artigo foi publicado em 29 de março de 2022 no Poder360.

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