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Wladimir Gramacho

 

Na infância, o jogo “siga o mestre” pode ser um grande limitador da criatividade se à criança só for dado um lugar subalterno, em que lhe cabe apenas imitar e repetir. Na vida adulta, o padrão de eleitores que seguem seus líderes de forma cega pode tornar-se um limitador da capacidade de controlar os políticos e obrigá-los a ter compromisso com os resultados de seus governos e das legislações que aprovam.

 

Um estudo desenvolvido por um pesquisador do MIT, nos Estados Unidos, mostrou que eleitores americanos tendem a seguir a opinião de seus principais líderes partidários, ainda que outros políticos da agremiação tenham opinião diferente ou – pior – ainda que sejam apresentados dados preocupantes contra aquela opinião.

 

O trabalho, assinado por Alexander Agadjanian e publicado na revista Political Communication, mostrou um padrão muito semelhante entre eleitores democratas diante de posições do ex-presidente Barack Obama e de votantes republicanos frente a posições do então presidente Donald Trump. Os dados foram coletados em 2018 junto a 2400 eleitores alinhados a um ou outro partido.

 

Entre republicanos, o apoio a uma nova lei de infraestrutura aumentou diante do apoio de Trump ao projeto, mesmo após a exibição da informação de que a iniciativa custaria US$ 1 trilhão e aumentaria o déficit público, um dado que normalmente causa aversão a eleitores do partido, simpatizantes de um estado mínimo.

 

Do mesmo modo, entre democratas, o apoio a uma nova lei de livre comércio aumentou diante da menção de apoio de Obama ao projeto, mesmo quando informados de que a medida afetaria empresas e trabalhadores qualificados e não qualificados, um dado frequentemente relevante na formação da opinião de votantes do partido.

 

Esses testes têm características metodológicas mais robustas que outros feitos anteriormente, mas o importante é que confirmam uma série de estudos desconcertantes feitos nos últimos anos que mostram que alguns eleitores continuam brincando de “siga o mestre” e simplesmente seguem seus líderes políticos.

 

No Brasil, a pandemia tem oferecido um contexto muito evidente sobre como simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro manifestam menor intenção de se vacinar contra a Covid-19 e – como ele – parecem acreditar mais na teoria conspiratória de que o coronavírus foi desenvolvido propositadamente num laboratório chinês para aumentar o poder econômico da China.

 

Antes disso, eleitores partidários no Brasil já pareciam manifestar comportamento semelhante, conforme documentado em alguns estudos. Ao final do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleitores petistas e tucanos seguiam as pistas de seus partidos para formar opinião sobre diferentes temas. E, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a avaliação da gestão do tucano entre os simpatizantes dos nove principais partidos brasileiros à época correspondia ao apoio ao governo, na Câmara dos Deputados, de deputados de suas respectivas legendas preferidas.

 

Seguir a opinião do seu partido ou líder político preferido não é um problema em si. Muitas vezes, esse processo traz economia de tempo e eficiência para algumas decisões complexas em vários âmbitos, como no apoio à mudança do sistema tributário, na aprovação de uma reforma da Previdência ou na adesão a comportamentos que inibam a circulação de um vírus letal. O inconveniente está em brincar de “seguir o mestre” quando o líder manda pôr o dedo na tomada, passar pimenta nos olhos ou não usar máscara durante uma pandemia.


Este artigo foi publicado em 21 de setembro de 2021 no Poder360.

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