Júlia Portela
Editora do blog Comunicação Aplicada
As campanhas de comunicação dos governos para enfrentar a pandemia devem cuidar do que é básico: checar informações e dados, desmentir notícias falsas e repetir sistematicamente as orientações de cuidados individuais e sociais, mantendo o compromisso ético de defesa do direito à informação e à saúde. Essa foi uma das principais conclusões do webinar A comunicação sobre a pandemia: o que está errado e como mudar, promovido pelo CPS em 19 de maio.
O corte de 76 milhões de reais na verba publicitária do Ministério da Saúde, a dificuldade em manter um discurso unificado no governo e falta de credibilidade de alguns porta-vozes foram problemas sérios para a condução de uma estratégia de comunicação efetiva até aqui, segundo Ugo Braga, ex-diretor de comunicação do órgão Braga integrava a equipe do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e deixou o posto com a mudança de comando no Ministério.
Esses desafios se exacerbam ainda mais frente ao quadro de profunda desigualdade social no país. Janine Cardoso, pesquisadora de comunicação em saúde do Instituto Fiocruz, participou do debate e ressaltou o papel desse cenário quando se trata dos efeitos do vírus na população: “Nem esse vírus, nem os vírus da dengue, ou os vários sorotipos, são democráticos. É claro que todos nós podemos contrair a doença, mas não é verdade que ela tenha os mesmos efeitos sobre os diferentes segmentos da população”. Segundo a pesquisadora, é fundamental estabelecer estratégias de diálogo com os grupos mais vulneráveis e adequar o plano de comunicação pública para atender essas demandas.
Para contornar essa dificuldade, Ugo Braga descreveu algumas ações de comunicação alternativas feitas pelo conjunto dos governos federal, estaduais e municipais, como o uso de carros de som para cidades da região Norte e barcos de som para populações ribeirinhas. Entretanto, ainda falta coerência e coesão nas mensagens dos órgãos governamentais, segundo Wladimir Gramacho, professor da Universidade de Brasília e coordenador do CPS.
Neste momento de ainda grande desorganização de mensagens e iniciativas, manter uma comunicação constante sobre o que é consensual - as medidas de proteção e cuidado - pode ser a melhor decisão. “Se apegar a um certo mantra, e ir, ao longo desse processo todo, repetindo esse mantra até isso passar é uma ação conservadora, eficiente e recomendada também pelos organismos internacionais de saúde”, lembrou Gramacho. Além disso, a renovação de um compromisso ético, como pontuou Janine Cardoso, ajuda a orientar as ações. “Temos que, fundamentalmente, renovar o nosso compromisso ético de que a comunicação é um direito universal”, disse a pesquisadora da Fiocruz.
O webinar está disponível na íntegra aqui.