
Rebeca Garcia
Pesquisadora Associada
Durante as eleições de 2018, o jornalista e escritor Laurentino Gomes lembrou como a História, com H, teima em repetir o roteiro. Segundo o autor do livro “1808”, dias antes da Proclamação da República, rumores dignos de WhatsApp circularam na Rua do Ouvidor no Rio de Janeiro. Os boatos sobre a possível prisão do Marechal Deodoro da Fonseca inflamavam imperialistas e republicanos, intensificando a polarização. A conversa inconsequente nas ruas chegou aos quartéis e acelerou a queda da monarquia.
O episódio revela que o uso de informações falsas para influenciar a opinião pública e setores estratégicos da sociedade não é um dos problemas nascidos com o século 21. Dentro deste cenário, um dos possíveis papéis da imprensa profissional é blindar sua credibilidade e aumentar sua presença e alcance. É preciso refletir, então, sobre quais são as habilidades necessárias para que o jornalismo fortaleça a credibilidade dos veículos.
No estudo Efeitos de erros gramaticais na credibilidade da notícia, contei com a participação de 226 voluntários que leram uma de três versões de uma nota informativa: uma com poucos erros gramaticais, outra com muitos erros e uma terceira corretamente escrita, portanto sem nenhum erro. Mesmo percebendo os erros, quando existiam, os participantes não opinaram que a notícia parecia menos verdadeira, menos confiável ou menos precisa.
Na pesquisa, os integrantes visualizaram o texto da notícia dentro da diagramação do próprio jornal. Ou seja, dentro daquele ambiente com atributos gráficos associados claramente a um veículo, erros gramaticais não parecem afetar a credibilidade da notícia, ainda que sejam falhas graves.
Em tempos de fake news, o resultado estudo sugere que - mais que um texto sem erros gramaticais - o que os leitores parecem esperar atualmente dos veículos de imprensa é que sejam capazes de entregar informações relevantes e em geral corretas ao longo do tempo. Nesse caso, um deslize pode ser perdoado.
Confira a pesquisa na íntegra aqui.
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