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Yasmim Perna

Pesquisadora Associada

 

Ilze Scamparini, Guga Chacra e o jornalista equatoriano Carlos Julio Gurumendi. Todos choraram ou se emocionaram ao vivo durante a cobertura da pandemia do coronavírus - tema que tem dominado o noticiário mundial nas últimas semanas. No caso do equatoriano, sua entrada ao vivo deixou os telespectadores da rede nacional RTS sem fôlego depois que ele rompeu em lágrimas ao escutar os sinos que ao redor do país iriam tocar em um mesmo horário para homenagear as vítimas do COVID-19.

 

Os três quebraram o protocolo do cargo. “Perderam o controle” quando se deve ter seriedade (nunca insensibilidade) para transmitir uma notícia, que neste episódio se tratava de números trágicos de uma crise global. Eles deveriam “ser penalizados” pela opinião pública por terem rompido com a expectativa do comportamento demandado para o cargo? Repórteres homens podem ser mais ou menos penalizados que mulheres na mesma função? A emotividade pode ter reforçado algum estereótipo para os que assistiam ao noticiário?

 

Para uma parcela do público on-line, a reação de Gurumendi não foi mal vista. Ao contrário. Internautas a consideraram impactante e triste. É claro que o momento é sensível e a escalada de mortes e medidas de isolamentos social impacta a vida de todos. Talvez outra situação não tivesse tamanho impacto nos profissionais e no público, mas demonstra que a emoção faz parte da existência humana e, portanto, da narrativa jornalista. Assim como faz parte do mundo político.

 

Perguntas de pesquisa semelhantes foram feitas no estudo “Emoções na Política: Efeitos de estereótipos de gênero numa notícia sobre Senado”, que realizei em 2017. Políticos também já quebraram protocolo e choraram em público. O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, é exemplo disso. Ele chorou quando a reforma da Previdência foi aprovada na Câmara, em julho de 2019. Ao contrário de ser um sinal de fraqueza, como estereótipos de gênero poderiam supor, Maia tem mostrado cada vez mais força e destaque no cenário político nos últimos tempos. Segundo levantamento da revista ÉPOCA, o presidente da Câmara já se emocionou 11 vezes entre 2016 e 2019.

 

Se fosse uma mulher no cargo alguma revista teria feito esse levantamento? A pesquisa buscou entender se a emotividade pode ser usada como fator a reforçar os estereótipos de gênero e preconceitos no cenário político. Para tentar mensurar isso, mais de 300 pessoas foram consultadas no estudo. Os resultados mostram que ao contrário do que a Teoria Descritiva do Viés dos Estereótipos defende, a demonstração de comportamento emotivo não parece penalizar mais mulheres do que homens no cenário político, ao menos entre os jovens que participaram do estudo. Uma notícia promissora, diante de tantos desafios.

 

Confira a pesquisa na íntegra aqui.

Imagem por: Above the Law