
Júlia Portela
Editora do Blog Comunicação Aplicada
Não, a cocaína não é um tratamento efetivo contra o coronavírus. Nem ele está sendo espalhado de propósito pela indústria farmacêutica. Em tempos de fake news, talvez uma das mais graves doenças enfrentadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é o que a entidade chamou de “infodemia”, causada pela difusão de desinformações sobre a doença.
Mas como as autoridade sanitárias podem responder a essa ameaça?
Sendo o mais transparentes possível, segundo o artigo “Correcting misinformation by health organizations during measles outbreaks: A controlled experiment”, publicado na revista PLOS One, em 2018, por quatro pesquisadores da Universidade de Haifa, em Israel. Com um desenho simples, o experimento conduzido por Anat Gesser-Edelsburg, Alon Diamant, Rana Hijazi e Gustavo S. Mesch separou os participantes em dois grupos. Ambos leram um post fictício no Facebook publicado pela mãe de uma criança descrevendo erroneamente os riscos do sarampo e sua forma de transmissão. O grupo A, entretanto, lia também um comentário de uma fonte oficial corrigindo as informações brevemente e de forma técnica e distante da angústia da mãe. Já o grupo B recebia um esclarecimento mais completo, que mostrava empatia pela preocupação da mãe e esclarecia a forma de contágio e de cura da doença. Essa resposta foi baseada na Teoria da Comunicação de Risco, que defende a importância da transparência na comunicação entre fontes de informação oficiais e a população quando se trata de uma correção, além de recomendar cuidados com a dimensão emotiva da mensagem.
Resultado, a confiança do grupo B na resposta oficial foi 22% maior do que no grupo A, e a satisfação com a resposta da autoridade oficial foi 23% maior no grupo B do que no grupo A. Ou seja, se uma boa resposta não é capaz de resolver todo o problema da “infodemia” indicado pela OMS, desenvolver uma comunicação com empatia, transparência e precisão parece ajudar muito.
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